Inspirado em Cervantes, mas também em Olievenstein, Di Loreto, Paulo Freire, dentre outros, o Projeto Quixote usa a arte e a estética como valor para destruir-se e reconstruir-se diariamente como uma caixa lúdica, em que crianças e adolescentes em extrema vulnerabilidade – emocional, psíquica, afetiva, econômica e social, dentre os aspectos mais evidentes – passam a ser ouvidos, cuidados, acolhidos, para, assim, projetarem-se como sujeitos na vida
e na sociedade. O Projeto Quixote vem transformando a vida de crianças e adolescentes em grave situação de vulnerabilidade na cidade de São Paulo há mais de vinte anos. Foram mais de 250 mil atendimentos e incontáveis aprendizados, que se traduzem numa metodologia consistente e criativa, compartilhada com o mundo num intensivo trabalho de formação e pesquisa, por meio de seminários, palestras, cursos, oficinas e publicações como esta.
O caminho é longo, cheio de aventuras e perigos, reais e imaginários, e esses quixotinhos urbanos, em sua maioria vindos de experiências recentes de privações e violência, precisam de boa companhia e acolhimento verdadeiro para restabelecer a confiança e sonhar novamente.
A escuta sensível de educadores e clínicos e o sentido de coletivo proporcionam ao público do Quixote atendimento de referência em saúde mental, e um estar no mundo diferente, em que o popular enredo do abandono da infância, em todos os sentidos, é apenas um pesadelo bizarro das sociedades desiguais.
Nesta outra história, não há heróis nem cavaleiros, muito menos super-heróis ou deuses – mas seres humanos capazes de imenso amor e profissionalismo para lançar-se ao mundo em busca de justiça.