O mundo é um lugar que dá medo. Cada virada de esquina, cada beco escuro, ou até mesmo uma estrada deserta, esconde um perigo, um mal que pode, de uma hora para outra, ceifar nossas vidas ou, nos piores casos, conduzir-nos para uma espiral de loucura e horrores. E não precisa sequer ser um monstro saído das páginas do Necronomicon, ou haver lua cheia, pois, se você for negro, e estiver no lugar errado e na hora errada, o mal virá não como um fantasma, não como um lobisomem, e sim como uma mente perversa e racista, sedenta por seu sangue, faminta por sua dor.
AfroHorror: medos ancestrais é uma coletânea de contos escritos por autores negros. Mais do que relatos sobre assassinos, monstros, loucura e misticismo, cada história carrega a intenção de debates mais profundos, sobre racismo, identidade e pertencimento.
Cada um dos autores contemporâneos teve total liberdade na abordagem do medo, contudo a cada um foi pedido para se inspirar em produções recentes do cinema de afrohorror, de Corra! a Nós, além de referências culturais variadas. O resultado são narrativas que recontam clássicos da literatura mundial ou lendas típicas do Sul ao Norte do Brasil; no mesmo livro que se encontra os mistérios de uma cartomante, alguém pode estar apenas querendo encontrar seu lugar neste mundo amargo e cheio de julgamentos; criaturas inomináveis, demônios e abismos de loucura competem com assassinos e racistas por vítimas de pele retinta. Pois o horror proposto aqui é um horror que pode ser tanto imaginário quanto real, e a linha tênue entre fantasia e realidade é tão fina que sonho e pesadelo se confundem.
Provavelmente os medos aqui narrados por nomes como Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, João do Rio e Lima Barreto você já conheça. Agora, é hora de se aprofundar em outras narrativas. E lembre-se: evite ruas desertas e nunca ande só. Principalmente se você, assim como os personagens desses contos, não tiver a pele branca.